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  • Rua Gregorio Junior, 264, Cordeiro, Recife, Pernambuco, Fone: 81-3228.7052

    SEXTA - 11/10
    CHINELO VELHO





    SABADO - 12/10
    FORRO DU BAO





    DOMINGO - 13/10
    XAMEGOES DO FORRO





    Homenagens

    HISTÓRIA DE ZÉ MARCOLINO

    Pela importância que o poeta tem para a música nordestina e pela força de seus versos mais famosos é que Rinaldo Ferraz, querendo construir uma casa dedicada exclusivamente ao forró pé de serra deu-lhe o nome de Sala de Reboco pois "todo o tempo enquanto houver pra mim é pouco pra dançar com meu benzinho numa Sala de Reboco". Nas paredes da casa está impressa essa homenagem em painel que mostra a imagem do poeta Zé Marcolino e seus versos pintados pelo artista plástico Karoba Nunes.

    Conheça um pouco mais da história deste mestre!!

    O matuto era poeta, contador de causos e compositor. No matulão carregava uma penca de músicas, na cabeça um sonho: que seus xotes e baiões fossem um dia gravados por Luiz Gonzaga. Ele enviou dezenas de cartas a Gonzagão, sem nunca obter resposta. Um dia, o matuto encontrava-se em Sumé, Paraíba, para receber o dinheiro de um boi que havia vendido, quando soube que o cantor estava na cidade. Imediatamente, correu até o hotel onde o artista estava hospedado. Ficou esperando sua saída.

    Poucos minutos depois, Luiz Gonzaga apareceu, com aquele seu jeitão carrancudo, que servia para desencorajar assédios de fãs. O matuto aproximou-se do seu ídolo e perguntou: - O Senhor é que é Seu Luiz Gonzaga? - Sou sim, por que? - O Senhor nunca recebeu cartas de José Marcolino Alves, não? - Sei não, recebo muitas. O que era que diziam estas cartas? - É porque eu tenho umas músicas de minha autoria que eu acho que dão certo pro senhor. - É... o Sertão é composto de homens inteligentes. Mas.. mas quem sabe se essas músicas prestam?

    O matuto ficou meio sem jeito, quase diz que suas músicas não prestavam. Luiz Gonzaga deu a conversa por encerrada com um vago: "Depois eu posso lhe atender" e seguiu em frente. Mais tarde, o Lua não apenas atendeu, como acabou gravando seis músicas daquele matuto no seu próximo LP, e mais, contratou ele como músico de seu conjunto.

    Nascido em 28 de junho de 1930, no sítio Várzea, do Major Napoleão Bezerra Santa Cruz, mais tarde município de Sumé, na Paraíba. José Marcolino poderia ter sido mais um entre as dezenas de poetas sertanejos, que vivem e morrem no anonimato, não fosse a ousadia naquele encontro com Luiz Gonzaga, que realmente tomou gosto por aquele sertanejo.

    Metade do repertório do LP "Ô Véio Macho", de 1962, tem Gonzagão interpretando as composições que José Marcolino lhe mostrou em Sumé: "Sertão de aço", "Serrote agudo", "Pássaro carão", "Matuto aperriado", "A Dança do Nicodemo" e "No Piancó". Esta seria a primeira leva de forrós de Marcolino gravada pelo Rei do Baião. Ele interpretaria várias outras, entre as quais as antológicas "Sala de Reboco" e "Quero chá".

    Luiz Gonzaga continuou gravando músicas de Zé Marcolino, quase todas em parceria: "Quem conhecia meu pai, sabe que as composições eram só dele. Ora, assim que encontrou meu pai, seu Luiz gravou de uma só vez seis músicas dele, como podiam ser parceiros? Não havia nem tempo para isso", diz Fátima.

    A família no entanto não tem queixas de Gonzagão, afinal foi por ele ter cantado as canções de Zé Marcolino, que o compositor tornou-se uma das lendas da música nordestina. Fátima Marcolino ressalta que somente de "Sala de Reboco" existem mais de trinta versões diferentes. É com o rendimento dos direitos dessas gravações que dona Do Carmo, viúva do compositor tira o sustento.

    NA ESTRADA - Marcolino integrou-se ao grupo de Luiz Gonzaga e participou, como músico, das gravações de "Ô Véio Macho", no estúdio da RCA, no Rio de janeiro. No seu livro "Cantadores, Prosa Sertaneja e Outras Conversas" (UFRPE, 1987) José Marcolino, impagável contador de causos, conta um curioso acontecido entre Luiz Gonzaga e um delegado representante da Ordem dos Músicos, que queria interromper as gravações, caso Gonzaga e seus músicos não se inscrevessem na Ordem: "Luiz, sertanejo, temperamental, partiu pra pegar o homem que, com um jeito bem amável falou: Entenda, seu Luiz! Eu sou um admirador seu! Provo isto com um pé de laranja no quintal da minha casa, que tem o seu nome!!"

    Outra do anedotário do Rei do Baião que Marcolino gostava de contar: "Luiz Gonzaga cantava pras bandas do interior quando, no meio daquele público enorme, surgiu um bêbado. Quando Luiz cantou uma música que a letra dizia - 'Sertão das muié séria e dos homi trabaiador', o bêbado levantou-se, pulando e dançando e disse: Eita Luiz, que faz muito tempo que tu andasse no sertão!".

    APEGO ÀS RAÍZES - Marcolino participou da turnê de divulgação do LP, viajou de Sul a Norte do País com Luiz Gonzaga, no entanto, a saudade da família e suas raízes sertanejas foram mais fortes. Depois de um show no Crato, ele tomou um ônibus até Campina Grande e de lá foi para Sumé, de onde fretou um táxi para a Prata, onde morava.

    Com o sucesso de suas canções cantadas por vários artistas (Quinteto Violado, Assisão, Genival Lacerda, Ivan Ferraz, entre outros), José Marcolino montou um conjunto e passou a fazer shows pelo Sertão, contando suas muitas estórias e composições.

    Somente em 1983, produzido pelos integrantes do Quinteto Violado, ele lançou seu primeiro e único, hoje fora de catálogo, LP "Sala de Reboco" (pela Chantecler). Um disco que está merecendo uma reedição em CD, assim como também seu único livro, necessita uma reedição mais bem cuidada.

    José Marcolino faleceu em 20 de setembro de 1987, nas imediações de Afogados da Ingazeira, Sertão pernambucano, num acidente que o que tem de trágico tem de prosaico. Ele vinha, em companhia do filho Ubirajara, quando o automóvel que dirigia capotou, depois de uma manobra brusca para desviar de uma vaca que atravessava a pista. O filho sobreviveu, mas Marcolino sofreu uma grave fratura no crânio, que lhe foi fatal. Deixou um baú cheio de composições inéditas. Graças a um projeto da Prefeitura de Campina Grande/PB, o "Memória Musical da Paraíba", 15 músicas de Marcolino saem do ineditismo, com o CD "Pedra de Amolar", produzido pela cantora Socorro Lira, com seleção de repertório, dela, Fátima e Walter Marcolino, filhos do compositor, e direção musical de Jorge Ribbas.

    Pela qualidade das canções é surpreendente que não tenham sido gravadas antes. Fátima Marcolino diz que o baú vem sendo esvaziado aos poucos. "O Quinteto Violado já gravou algumas inéditas. Socorro Lira veio na minha casa conhecer o acervo do meu pai e ficou encantada. Foi assim que começou este disco", conta a filha mais velha do compositor, que mora em Caruaru/PE, e participa de um das faixas do álbum, "Toada de Filismino", em um dueto com Vital Farias.

    "Pedra de Amolar" é um disco-tributo, com nomes bem conhecidos da música nordestina e o próprio Zé Marcolino que, pela magia da eletrônica, faz um dueto póstumo com o filho Bira Marcolino no xote "Cabocla Matadeira". Dominguinhos, Sivuca e Marinês, últimos remanescentes da era Luiz Gonzaga também estão presentes. Dominguinhos canta "Sertanejo Forçado", enquanto "Solidão de Caboclo" tem Marinês acompanhada pela sanfona de Sivuca. Participam também do disco os veteranos Flávio José e Quinteto Violado, além de quase todo mundo da nova geração do forró: Vates & Violas, Maria Dapaz, Irah Caldeira, Maciel Melo, Kátia Virgínia, Gláucio Costa e Santanna.

    Eternamente bem-humorado, Zé Marcolino quando mostrava uma composição a algum cantor dizia que aquela era da sua "reserva especial". Esta reserva infelizmente está acabando. "Só restam umas dez músicas do meu pai que ainda não foram gravadas", diz Fátima Marcolino. Embora tratasse todo mundo, e a si mesmo, por "poeta", Marcolino não escrevia poesia: "Essa coisa de soneto, poemas, ele não costumava fazer não. Tudo que escrevia era com o violão de lado. Musicava e registrava num gravador", conta Fátima. Inspirado, isso Zé Marcolino era. Suas músicas surgiram de fatos que o tocaram, como a primeira viagem do homem à lua: "Quando soube que o astronauta tinha descido na lua, meu pai falou para a gente: 'Como é que se pisa numa coisa linda daquela?' E aí fez "Ciúmes da lua", revela a filha: "...Testemunha dos amores/ Tocaram nesse teu corpo/ Três cabras conquistadores/ Te pegaram descuidada/ Tiraram teu perfume/ E eu fiquei atormentado/ Já pra morrer de ciúme", a primeira estrofe da modinha, gravada por Irah Caldeira. (José Teles)

    Missa do Poeta Em 1988 foi realizada a I Missa do Poeta, em Serra Talhada, sertão pernambucano. "Missa do Poeta encanta o sertão", "Show de Gonzaga emociona e só acaba na madrugada". Essas eram as referências nos grandes jornais sediados no Recife sobre o evento. No dia 18 de setembro de 1988, cerca de cinco mil pessoas lotaram a Concha Acústica de Serra Talhada para assistir a primeira Missa do Poeta, celebrada pelo padre Francisco de Assis Rocha em homenagem a Zé Marcolino, no primeiro aniversário do seu falecimento.

    O primeiro programa da Missa do Poeta durou três dias, de quinta a sábado, como também funciona o Sala de Reboco. Mas foi na sexta-feira, que houve o grande ápice das festividades da Missa: juntos cantaram Luiz Gonzaga, Ivan Ferraz, Alcimar Monteiro, Rui Grude, Elias Nogueira, Conjunto Os Tropicais, Flávio José, Arlindo dos Oito Baixos e Nádia Pessoa, uma menina de sete anos que foi a grande atração tocando músicas nordestinas em harpa. Tinha mais gente da nata: Sebastião Dias, Geraldo Feitosa, Val, Zeto e Bia e o fabuloso Lourival Batista, o Louro do Pajeú. A partir de 1991 a Missa do Poeta passou a ser realizada na cidade de Tabira também no interior de Pernambuco, sempre com a presença de grandes poetas.

    Plenna